domingo, 23 de setembro de 2012

Que fim levou Mirante? - A mídia especializada em arte na Ditadura Militar


Por Raquel Novaes Bertani

A mídia especializada era um dos únicos meios para os artistas plásticos divulgarem seus trabalhos durante o período da Ditadura Militar. Ao observar as revistas Mirante das Artes, Arte Vogue, Gam, Vida das Artes e Malasartes, pude tirar algumas conclusões.

Ao observar exemplares das revistas citadas, publicadas durante a ditadura militar, pude observar que algumas delas preferiram focar na arte internacional ou ignorar e agradecer ao governo pelas brechas cedidas para a realização de algumas exposições. Caso observado nas revistas Vida das Artes e GAM.  As outras que observei se mostraram mais combativas, caso das revistas Mirante das Artes, Arte Vogue, ambas editadas por Pietro Maria Bardi, um dos criadores e diretor do MASP até 1996, e as revista Malasartes editada por um dos artistas mais icônicos da época, criador da obra Inserções em Espaços Sociológicos: Projeto Coca-Cola, Cildo Meirelles. Em Mirante e Arte Vogue as críticas ao governo eram ácidas, como exemplo de uma publicada nesta última, após o governo vetar a abertura de uma exposição em Salvador por considerar que o acervo oferecia uma imagem deteriorada do país. Porém, ao invés de fazer uma crítica descarada, a publicação convidava o leitor a pensar e refletir sobre como se sentia sabendo que seu governo havia cancelado uma exposição com obras dos maiores nomes da arte baiana apenas por não ser convencional. Já em Mirante das Artes, as críticas eram menos veladas, como em um artigo que recriminava a tentativa do governo militar de abrir uma TV educativa que se chamaria “Centro Brasileiro de TV educativa”. Logo acima do texto, existia uma gravura mostrando uma pessoa amordaçada e no outro uma vendada com os ouvidos, mostrando claramente que a posição da revista era contrária às tentativas ditatoriais de controlar cada vez mais a população.
Exemplares de Mirante das Artes

            Tenho que confessar que estranhei, quando percebi que as revistas mais combativas eram aquelas dirigidas por Pietro Maria Bardi, grande amigo do magnata da imprensa, desonesto e amigo de qualquer governo que topasse facilitar sua vida, Assis Chateaubriand. Inclusive, em um dos números, Bardi faz um editorial em homenagem a morte do dono dos Diários Associados, engrandecendo seus grandes feitos pela arte brasileira ao criar o Museu de Arte de São Paulo. Não encontrei nenhuma razão que justificasse tal posição, mas algumas matérias são mais brandas e não tão incisivas, como uma bandeira branca para que a revista continuasse funcionando. Mas o que percebi no geral é que a mídia especializada, em grande parte, não se deixou intimidar e passou a criticar o governo através da arte. Críticas à pobreza, a não-divulgação da arte, ao fechamento de exposições e até contra a restrição da liberdade de imprensa eram encontradas nestes exemplares.

Pietro Maria Bardi - editor de Mirante e Arte
            Enquanto observava estas revistas (muito bem organizadas e conservadas no acervo da biblioteca do MASP, por sinal), me fiz uma pergunta, onde estava a censura que não proibia estas publicações? Por caso, achavam que as publicações especializadas atingiam um público limitado e não ofereciam perigo? Comecei a pensar, e se aconteceu? Por exemplo, no MASP ao consultar a coleção completa de Mirante, percebi que a publicação começava e terminava em 68, com a promessa de voltar reformulada. Já Arte Vogue se tronou um encarte de Casa Vogue, perdendo grande parte de seu espaço. Coincidência ou apenas decisões econômicas? Bem, não pude encontrar nada que confirmasse minhas teses e deixo-as apenas para reflexão dos leitores.

Mais informações em breve...
Agradecimento à Biblioteca do Museu de Arte de São Paulo



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